Como de praxe a velha insônia do domingo a noite, na verdade da madrugada da segunda, leva me a escrever.
Não sei se não durmo de tédio, ou se tenho tédio pois não durmo, o fato é que me ocorre o mesmo pensamento de praxe.
Pensei em todo o fim de semana, que desta vez durou mais do que o comum (feriadão) em deixar de lado minha casa em Natal e voltar a Mossoró, para estudar para concursos. Isso porque não agüento mais a vida de não ter nada de certo no fim do mês, minha vida de arquiteto é a mais imprevisível possível, nunca sei ao certo o quanto vou ganhar e mesmo quando o sei o resultado é sempre insatisfatório.
A porcaria desta vida é um cárcere. Tenho de viver de forma automática. Ligo o piloto automático na segunda e ele só desliga no sábado. Pergunto me pra que uma vida onde todas as coisas ocorrem sempre da mesma forma, a mais de oito bilhões de macacos. E o pior é ter de carregar a chaga de ser filho de classe média baixa, e ter todos os anseios de um abastado, e toda a deficiência da pobreza como entrave ao crescimento. Ter uma educação que me narra a vida dos ricos. Ouvir Gershwinn no pc e não num teatro, meu Deus, conheço duas pessoas em Natal que sabem quem é Gershwinn. Sufoca me ter de carregar um conhecimento que nem sei com quem usar, nem onde usar, os teatros locais só têm espaço para a vulgaridade. A vulgaridade sempre diverte quando vista no teatro, mas se você a comete em público pode se dispensar de todos os jantares a que poderiam te convidar. Mas bem, eu mesmo me desconvidei, de todos os jantares. Tento viver o mais possível longe das folgas burguesas. Não me entenda mal, não sou um anarquista ou um bolchevique, raça desprezível de comunistas, mas me cansam o papai a mamãe e os filhinhos do comercial da TV. Cansa me ainda mais o fato de todos pensarem que é esta ávida que me faria feliz. Não, não é. Eu não faço questão de viver num comercial de TV da década de 1950. Eu mesmo sei o que o papai, o arauto da família, busca no bate papo UOL depois do Happy Our ou do Society. A classe média herdou o fardo de Eva, ansiar, mas não poder tocar, se tocar, tais fodida bonita, o que sobrou a ela foi a ansiedade, de um dia ser rico, o que não chegará, ou de um dia virar pobre e indigno. A lasciva e a libido só se permitem em dois casos: abaixo de dois ou acima dos quarenta salários por família. Se não se encaixar, viva da negação. O pior de tudo é ter a maldita alcunha: profissional liberal, escravo, cu de burro. Idiota, você podia ser médico, advogado, foi ser arquiteto, profissão de viado, ninguém respeita, nem o cliente, nem a família, nem os outros arquitetos, só o cachorro que ta nem ai pra isso, respeita até teu pai bêbado. Podia ser um medicinos sapiens, advogados sapiens, mas me sai um arquitetuloptécos???? Faça-se o favor meu amigo, se retira. Ou então, se encaixa ai no menu:
Das 08:00 as 18:00, de segunda a sexta, sábado e domingo almoçar no mesmo restaurante, férias uma vez por ano, natal, reveillon, carnaval, páscoa, dia das genitoras, dia dos genitores, aniversários, chás de panela, chás de bebê, barzinho na quinta, boite na sexta, boite no sábado, bar no domingo, faculdade aos 18, carreira aos 22, casamento aos 25, filhinho aos 28, alcoolismo aos 30, bala nos miolos aos 40.
Sucesso!!!
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